Saudade

O meu coração aperta-se.

As lágrimas caem sem que faça esforço algum.

Um sorriso surge na minha face quando me recordo de ti. 

Memórias de tempos que já passaram mas que nunca esquecerei.

Viver a vida é bom mas recordar o passado é ainda melhor, não achas?

Jurei que um dia iria escrever sobre ti, nunca prometi quando. Agora serve?

Abraço as lembranças como uma velha amiga, confiante de que a caneta me ajudará.

Como se honra alguém que nos deu tanto? Com gestos, palavras ou simplesmente um obrigada?

Não sei se serve de muito, mas quero agradecer-te por tudo o que me deste e ensinaste nesta vida. Obrigada. 

Saudade é a palavra mais bonita do dicionário português.

Sabes porquê?

Porque me lembra de ti.

Salvação

Sucumbo ao poder do teu olhar, julgando que nele vou encontrar a minha salvação.

O azul dos teus olhos lembra-me o oceano infinito, majestoso, misterioso. 

Que segredos escondem eles?

Terás algum dia a coragem necessária para os partilhar comigo?

Escondes-te nos sentimentos que depositam em ti porque tudo é mais fácil quando evitas o teu reflexo.

Deixas-me amar-te?

Sem limitações, é a única coisa que te peço.

Uma parte de ti não me chega, eu quero tudo.

Aceita-te.

Aceita-me. 

Solidão

Odeio multidões.

Sinto-me sufocada quando estou rodeada de muitas pessoas, mesmo que as conheça.

Sou uma rapariga de hobbies solitários: leitura, música, filmes, séries, tudo o que consista no mínimo contacto humano: até aprecio melhor a cerveja ou o whisky quando estou sozinha, perdida nos meus pensamentos.

Podia dizer que odeio o sentimento e que tento contrariá-lo, mas estaria a mentir.

Eu amo a minha própria companhia, os meus amigos não compreendem. Quando recuso envolver-me nos planos mais simples chamam-me maluca, insistem em acreditar que sou mais feliz fora da minha zona de conforto, por vezes até me pressionam a fazê-lo.

Mas eles não entendem, por muito compreensivos que possam ser. 

Existem pessoas que não suportam estar sozinhas, eu sou o oposto.

Acredito que é essencial para a sanidade mental de um ser humano conseguir estar sozinho, sem necessitar de alguém.

Sou uma solitária, mas nunca em momento algum da minha vida me senti só.

[E isso, vale muito.]

Rancores

Sempre me disseram para não guardar rancores, ainda ouço as vozes do passado a dizerem-me que não vale a pena. Tento seguir os seus conselhos, lá no fundo eu sei que são sábios, mas não resisto à tentação: irrito-me, zango-me e guardo rancores. 

Os outros seguem em frente, eu nado para trás. 

Lembro-me mais daquilo que me chateou do que aquilo que me faz feliz. Porquê? 

Loucura, talvez. 

Infelicidade, quem sabe. 

Confusão, quase de certeza. 

Lembro-me dos tempos em que agia de cabeça quente e me sentia bem, estava a livrar-me de sentimentos malignos que se apoderavam de mim e me controlavam, deixando-me presa num corpo em que não queria viver. 

Pensando melhor, todos os meus arrependimentos não existiriam se eu tivesse mais calma, mais paciência. 

Pensando ainda melhor, se tivesse sido mais cautelosa, não estava aqui, a escrever este texto. E isso, seria uma tragédia.

Amor-ódio

Amo-te. Não devia.

Ensinaram-me a amar o próximo, a fazer sacrifícios por aqueles que amo, mas ninguém me ensinou como poderia amar o reflexo no espelho, a imagem que me segue dia e noite.

Feia, crua, real.

Como é que se odeia tanto uma coisa e se ama intensamente outra logo a seguir?

Nunca ouvi ninguém falar de ódio, apenas amor.

O amor salva.

O amor vence.

O amor já destruiu mais auto estimas do que o ódio. A ideia de uma falsa realidade leva a lágrimas sem fim enquanto o sono não chega.

Acreditar num amanhã melhor é bater no fundo, é abraçar o desespero.

Não existe amor aqui, apenas ódio.

Odeio-te. Não devia. 

Terapia

Respira fundo.
Ignora as vozes que te tentam calar.
Controla a tua mente.
Inspira. Expira.
Acredita em ti mesma, deus sabe que mereces.
Respira fundo, mais uma vez.
Ignora as vozes que insistem em tornar-te numa fotocópia daquilo que vês diariamente.
Recusa-te a ser assim.
[Continuar desta maneira é melhor?]
Aceita-te como és, acredita que a tua essência te vai levar longe.
Sorri, chora, grita, mas nunca implores, mesmo quando acreditas que não existe outra solução.
Não deixes que te derrubem mas, na eventualidade de caíres, ergue-te das cinzas, como a fénix que há dentro de ti.
Luta, conquista, acredita.
Eu sou a voz da tua mente, aquela que te ajuda quando mais precisas.
Acredita em mim.
Acredita.

2018

Desde que me lembro que estou habituada a caminhar sozinha neste mundo. Este ano que passou foi a prova viva de que não só consigo viver bem com isso, como consigo suceder sem alguém a dar-me palmadas nas costas por um trabalho bem feito. Eu lutei, quase desisti, mas levantei-me sozinha, como sempre. Este discurso egoísta foi o pilar da minha recuperação, o meu verdadeiro companheiro num ano tão tenso e complicado.  

Continuo a ser a mesma Cláudia de há muitos anos atrás e, ao mesmo tempo, tão diferente. Nada mudou em relação aos sentimentos de me sentir uma estranha quando estou rodeada de pessoas, que vivem alegremente a sua vida sem pensarem em tudo até ao último pormenor. 

[Mas eu não sou assim, serei sempre diferente.]

Por outro lado, tanta coisa mudou: a minha perspectiva de ver as coisas já não é a mesma, admito que por vezes sou injusta, mas faço-o para me proteger. Vivi muito tempo presa na felicidade dos outros, enquanto menosprezava a minha, esse é um erro que não vou voltar a cometer. 

[Tenho orgulho em mim.]
Que este novo ano seja o meu ano, cheio de felicidade e conquistas.