Ao observar aquele lago, naquele jardim que ainda hoje visito, senti-me bem, sem motivo aparente. O sentimento de liberdade que se apoderou de mim naquele momento foi tão forte que tropecei e por pouco não caí. Era tão inocente, só tinha quatro anos e estar a uns meros passos da minha mãe fez-me sentir como as crianças mais velhas que não estavam sempre de mão dada com os pais. Mal eu sabia que a minha jornada na vida estava ainda muito prematura, sem ter sido manipulada por pessoas e pensamentos cruéis, e que em breve entraria num mundo novo e completamente diferente, com novas pessoas com diferentes maneiras de pensar da minha.
Agora que penso nisso, tantos anos depois, acho curioso lembrar-me de um momento solitário ao invés de um com alguém ao meu lado. Nunca fui uma pessoa solitária, mas sempre tive momentos de solidão em que o pânico que sentia só se acalmava quando me afastava de tudo e todos. Talvez o lago seja o ponto de tranquilidade que me transporta da infância para uma coisa mais adulta, de certa maneira. Representa o meu lado pacífico que, a qualquer toque, sofre uma alteração minúscula capaz de afectar todo o meu futuro. Ou então isto são só pensamentos absurdos que me acompanham nesta noite tão fria.
Ao fim do dia, o meu reflexo no lago é tudo aquilo de que me consigo lembrar. (Não é assim uma memória tão boa, pois não?)